Thales Costa tem 28 anos e já foi DJ, professor de pintura, estudante de Pedagogia e vendedor de roupas em lojas de grife. Hoje, ele é aluno de Design Gráfico das Faculdades Integradas Barros Melo (AESO) e tatuador famoso na internet com o perfil @taltuagens, alusão clara e original ao nome de batismo. As diversas carreiras, antes desta, podem dar a impressão que ele demorou a descobrir qual era seu real talento. A verdade é que, desde muito novo, Thales sabia “o que queria ser quando crescesse”, mas precisou adiar os planos, quando a vida e alguns parentes apontaram outras direções. O tempo tratou de trazer de volta os sonhos e desejos e, atualmente, ele está realizado, desenhando na pele de pessoas, no Recife, São Paulo, Rio de Janeiro e exterior, um universo que descobriu desde muito cedo: o feminino.
Natural de Carpina, interior de Pernambuco, na adolescência, Thales começou a ajudar a mãe, que era designer gráfica, a dar andamento aos trabalhos dela no computador. Ele cresceu em uma família formada, basicamente, por mulheres. Isso influenciou diretamente no estilo de arte que costuma fazer. “Minha mãe era solteira, minhas tias divorciadas, e minha avó, uma mulher sertaneja, viúva, rígida. Eu convivia muito com elas, as via andando sem roupa pela casa e aprendi a naturalizar isso. Era o meu mundo. Percebi que havia muitos tipos de mulheres e que nenhuma é igual; não existe um padrão”, argumenta. Mais tarde, quando veio morar no Recife, por volta dos 19 anos, trabalhou como voluntário e, posteriormente, funcionário, no Caps (Centro de Atenção Psicossocial), ensinando pintura em quadros para mulheres que sofreram violência doméstica. Mais uma vez o universo feminino trazia soluções. “Foi por incentivo das alunas que comecei a tatuar. Elas diziam: “eu tatuaria isso”, quando viam meus desenhos”, lembra.
Thales juntou todo o dinheiro que tinha e investiu nos equipamentos e materiais. “Comprei tudo e fiquei desesperado, pensando que jamais conseguiria desenhar na pele. Mas, é questão de prática, como no papel, sendo que em outra plataforma. Com treinamento, você aprende mais sobre a textura, até onde pode colocar a agulha, etc”, revela. A troca de ideias com outros profissionais também colaborou muito para o desenvolvimento dos traços. Hoje, o profissional tem um estúdio, chamado Casa Riscada, no bairro da Torre, que abriga tatuadores com ideias e valores parecidos com os dele. Gente ligada em causas progressistas, femininas e LGBT+. Faz quatro anos que este é o único ofício do pernambucano.
O artista gosta de desenhar corpos de mulheres, características e preferências que têm mais a ver com esse público. Nas obras dele, são recorrentes as referências a livros, viagens, emoções, natureza, universo. Os desenhos são autorais e tatuados uma única vez. Além da ilustração, Thales escreve uma poesia para cada cliente com as caraterísticas pessoais. É um trabalho personalizado e exclusivo. “Eu tenho a missão de traduzir o que as pessoas desejam para uma imagem. Às vezes, chegam com ideias para várias tatuagens e eu consigo transformar tudo em uma só arte. O cliente sai com a experiência da tattoo e do processo criativo”, afirma. “É uma tarefa minuciosa, única e energicamente potente. A tatuagem mexe com a autoestima e necessita de profissionalismo, acolhimento e escuta. Eu, por exemplo, nunca peço só um desenho como base para criação. Eu preciso que a pessoa fale sobre ela, que diga músicas que curte, imagens que tocam. Eu gosto de olhar o Instagram e tentar entender quem está ali para passar aquele universo na tatuagem. Essa troca me possibilita criar uma espécie de mapa visual e trabalhar algo em cima disso. Afinal, é o que as pessoas querem: traduzir uma história, quem são. É algo até terapêutico”, conclui.
Por semana, o tatuador costuma fazer entre sete e nove produções. “Com o Instagram, o trabalho triplicou, porque a plataforma é mais democrática e possibilita que tudo seja feito por ela, desde a exposição das artes, até a prospecção de clientes e a conexão com outros profissionais”, afirma. Sem contar que a tatuagem virou um mundo pra todos, deixou de ser algo marginalizado, ele afirma. “Hoje, a tatuagem é vista como arte. Existem vários estilos, não tem mais isso “desenho feio ou bonito”. O que acontece é a identificação. Se a pessoa curte a arte, ela vai tatuar, seja por estética ou outra razão”, defende.
O estudante de Design Gráfico acredita que é uma tendência os profissionais da área enveredarem pela função. Partindo da premissa que o Design tem como objetivo “resolver problemas por meio da imagem”, a tatuagem casa perfeitamente com a formação. Ele acredita, inclusive, que a experiência acadêmica vai ajudá-lo a desempenhar a tarefa com ainda mais qualidade. “Quando eu comecei a trabalhar de verdade com arte (antes era só hobby), percebi que era tudo muito intuitivo, sentia necessidade de fazer o curso. E, agora, estudando, percebo que eu estava certo em muitas das minhas escolhas, como, por exemplo, posição de texto nas artes, etc. Conhecendo as técnicas, testando coisas, trocando experiências, sinto que posso argumentar com mais propriedade sobre as minhas opções artísticas”, conclui.